Há situações no dia a dia que me deixam profundamente intrigada com a passividade humana. Esse comportamento, embora pareça pequeno em muitos casos, tem consequências amplas e reflete diretamente no mundo em que vivemos.
Vou compartilhar dois exemplos para ilustrar.
Uma amiga alugou um flat no Airbnb para passar as férias com mais cinco pessoas. Ao chegarem, perceberam que faltava uma toalha de banho e uma xícara, ou seja, o flat estava equipado apenas para cinco hóspedes, apesar de ser anunciado para seis. Quando sugeri que ela enviasse uma mensagem ao proprietário para informar o problema e solicitar o item em falta, ela respondeu: “Não quero estragar as férias com isso. Eu me viro com a toalha de rosto, e alguém pode beber no copo.” Essa escolha, embora prática no momento, refletiu a aceitação de um serviço abaixo do esperado, sem exigir melhorias ou responsabilização.
Esse comportamento confirma uma tendência humana bastante comum: preferimos permanecer na zona de conforto, porque sair dela exige esforço, energia e, muitas vezes, confronto. O mesmo acontece com frequência em outros aspectos das nossas vidas, tanto pessoais quanto profissionais, onde optamos por nos acomodar em vez de enfrentar desafios.
Outro exemplo vem da minha própria experiência ao contratar móveis planejados. Enfrentei inúmeros problemas: atendimento ruim, atrasos, falhas no projeto e nenhuma solução efetiva. Quando compartilhei meu descontentamento, as pessoas ao meu redor reagiram com frases como: “Sempre dá erro em construção ou móveis planejados.” A situação piorou ao ouvir a justificativa do gerente da loja, que disse, com a maior naturalidade: “Já vi casos piores, isso acontece e vai continuar acontecendo.” Ele parecia completamente absorvido pelo status quo, como se aceitar o problema fosse mais fácil do que trabalhar para resolvê-lo.
Essas respostas reforçam como a tendência de evitar o desconforto impede mudanças. Enfrentar essas situações exigiria planejamento, persistência e, muitas vezes, confronto com as partes envolvidas – um esforço que muitas pessoas simplesmente preferem evitar.
Esses exemplos me fizeram perceber como a passividade pode ser perigosa. Seja em algo simples, como uma xícara ou toalha que faltam, ou em problemas mais graves, como serviços mal prestados, a escolha de “não agir” perpetua ciclos de mediocridade e insatisfação.
Eu, por outro lado, não consigo ficar quieta. Se estou em um ônibus e vejo alguém ocupando um assento prioritário enquanto uma pessoa que realmente precisa está em pé, falo imediatamente. Porque se ninguém tomar atitude, nada muda.
Essa passividade também se manifesta em outras áreas da vida, como nossos relacionamentos, planos de carreira e até saúde. Ficamos estagnados, reclamando da rotina ou de algo que não está funcionando, mas hesitamos em sair da zona de conforto para mudar o que nos incomoda.
E no mundo corporativo, como isso se aplica?
A cultura do “não é minha responsabilidade” também está presente nas organizações. Quando colaboradores presenciam processos ineficazes, práticas inadequadas ou decisões questionáveis, mas optam por não agir, problemas se perpetuam. Permanecer na zona de conforto – mesmo que isso signifique tolerar processos ruins ou um ambiente tóxico – parece mais fácil do que buscar melhorias ou propor mudanças.
Empresas que não valorizam o feedback e que não incentivam mudanças colaborativas criam um ambiente estagnado, onde o potencial para inovação e crescimento é sufocado. Essa mesma inércia organizacional reflete o comportamento individual: evitamos desconfortos a curto prazo, mas ignoramos o impacto negativo a longo prazo.
Tomar ação não é fácil, seja no ambiente pessoal ou profissional. Mas é a única forma de promover mudanças reais. Cada vez que escolhemos não agir, reafirmamos a falha como um padrão aceitável. Seja ao reclamar de um serviço mal prestado ou ao sugerir melhorias na empresa, cada voz conta.
Vamos abandonar a passividade e abraçar a responsabilidade de construir um mundo – e ambientes de trabalho – melhores. Afinal, mudanças só acontecem quando as pessoas param de “deixar para o outro” e se dispõem a sair da zona de conforto.